Clássicos Favoritos
Não é raro encontrar leitores que tentam, a todo o custo, fugir dos clássicos. Por um lado compreendo. A forma como estes livros estão escritos pode, por vezes, dificultar a compreensão do texto; as diferenças sociais e de género, que apesar de continuarem presentes nos nossos dias, podem levar leitores a abandonar as obras; a própria história pode não ser cativante. Por outro lado, aquilo que afasta uns leitores pode aproximar outros. Ou seja, os clássicos apresentam-nos formas de falar, agir e viver diferentes dos atuais. Ao lê-los, somos transportados para um tempo diferente com costumes opostos aos nossos e isso não tem de ser mau. Eu gosto de ler um bom clássico porque, entre outras coisas, ao tentar compreender o passado, conseguimos compreender melhor o presente!
Apesar de ter crescido rodeada de livros, o meu hábito da leitura só começou quando entrei para a faculdade. Na altura, fazia viagens de comboio de 2-3 horas e, como geralmente ia sozinha, os livros foram a minha grande companhia. Os clássicos portugueses foram os primeiros a andar comigo. E, por isso, hoje trago os meus clássicos favoritos da literatura portuguesa!
A Viúva do Enforcado, de Camilo Castelo Branco
Teresa de Jesus é a filha única de um comerciante de Guimarães, uma menina inocente e muito religiosa, até ao momento em que conhece e se apaixona por um jovem ourives, Guilherme. Os dois casam-se e fogem para Espanha para evitar a ira do pai de Teresa, que se opunha fortemente à união, por não considerar que o casamento trouxesse à sua filha as melhores condições sociais ou financeiras.
Em Espanha, Teresa cultiva uma amizade com Inês, filha do alcaide, apaixonada por António, um jovem português que se encontra em fuga por homicídio. A morte súbita do marido de Teresa vem frustrar o noivado de Inês e António, quando este acaba por expressar o seu amor por Teresa.
Uma educação religiosa constrange um zelo dramático entre relações, perseguições e crimes, no cenário sociopolítico do início do século XIX, marcado pela oposição entre democracia e autoritarismo
Menina e Moça, de Bernardim Ribeiro
Considerada a primeira novela pastoral da península ibérica, Menina e Moça estende-se ao longo de um enredo composto por uma amálgama de romances de cavalaria, romances bucólicos e estórias românticas.
A obra começa com um monólogo de uma menina refugiada na natureza, que nos traz memórias da sua juventude, angústias e tristezas, que projeta no cenário pastoral que a envolve.
Ela conversa então com a Dona do Tempo Antigo, que lhe revela que só as mulheres são suscetíveis à tristeza e que, os homens, por sua vez, gozam de uma espécie de imunidade a esta emoção. Há, contudo, uma única exceção: os Dois Amigos, que servirão de protagonistas às narrativas que compõem o livro.
Bernardim Ribeiro apresentou a Portugal muitos novos desenvolvimentos da literatura europeia do seu tempo: a novela sentimental, o bucolismo e várias referências aos escritores italianos renascentistas, esforços que se traduziram essencialmente na procura de um novo género de romance.
As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Dinis
A linguagem modesta e representação realista, tão próprias de Júlio Dinis, interpretam, nesta obra, a vida rural portuguesa da época.
Entre os dois filhos de um agricultor e duas órfãs entregues ao cuidado do reitor da aldeia, muitos acasos surgem no decorrer deste quadro bucólico. Daniel, o filho mais novo do agricultor José das Dornas, retorna ao campo depois de concluídos os seus estudos na cidade do Porto, tentando em vão reencontrar o seu lugar na aldeia.
Os seus desencontros e incertezas acabam por conduzi-lo a desenvolver uma relação afetiva por Clara, noiva do seu irmão. o desencadear de vários acontecimentos e situações imprevistas compõe o enredo dramático do grande tema deste livro, o amor.
Os Fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis
A Casa Mourisca é habitada por uma família fidalga que, depois de abalada por sucessivas tragédias, se debate agora contra dívidas, empréstimos e a progressiva decadência da nobreza que revoluciona o Portugal do século XIX.
A inquietação que sentem perante a iminência do declínio da sua casa, do nome da sua família e da ameaça que isso representa para os seus próprios futuros, faz com que os filhos do velho fidalgo decidam assumir a gestão da herdade, reavendo a prosperidade que antes reinava na Casa Mourisca.
O romance reconhece a importância do trabalho como fonte de prosperidade e satisfação, sugerindo a convergência dos valores positivos da aristocracia com os da burguesia, então em ascensão, como fórmula de regeneração social.
A Morgadinha dos Canaviais, de Júlio Dinis
Em meados de oitocentos, Henrique de Souselas muda-se para uma aldeia no norte de Portugal, a conselho de seu médico, esperando deixar para trás, na capital, as suas doenças e angústias da vida urbana.
Henrique encontra tranquilidade e paz de espírito na pequena aldeia minhota, onde conhece Madalena, uma mulher bela, de fortes ideais e de forte caráter, que o desperta para os encantos da vida rural.
Júlio Dinis deixa-nos um maravilhoso retrato do quotidiano, dos costumes e das tradições da vida campestre, que acolhe harmoniosamente os temas da religiosidade, da política, da ambição e da vida familiar portuguesa da época.