Desafio dos Pássaros 3.0: Tema 7
E eis que chegamos ao fim do Desafio dos Pássaros. Ao longo destas semanas, nem todos os temas foram simples de compor, alguns foram mesmo tirados a ferros. Apesar de todos os participantes terem o mesmo ponto de partida, foi interessante ver o rumo que cada um optou por tomar.
O tema desta semana, a última deste desafio, foi:
Um negacionista, um padre e o Gustavo Santos entram num bar…
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Faz neste dia um ano que aconteceu a história que aqui hoje vou contar. Tudo se passou no bar da sede da comissão de festas em honra de São Tiago. Apesar de a romaria não se realizar, devido à nova doença que tão depressa se tornou mundial, a sede não estava vazia. Lá dentro, alguns membros da comissão estavam reunidos, com as devidas precauções. Até o cura da aldeia lá estava. Nunca em toda a sua longa vida sacerdotal nem durante os anos que a antecederam, se lembra o padre de ter faltado à festa de São Tiago ou de ela não se ter realizado. Mais do que a festa em homenagem ao padroeiro, esta era a altura em que muitos regressavam à terra. Nesse ano, não houve festa nem reunião.
Mas voltemos à sede, que foi lá onde tudo se passou. Estava o padre e um dos seus paroquianos sentados numa mesa, no bar da sede. A conversa, como não podia deixar de ser, tinha como tema o novo coronavírus.
- Olhe, Padre, quer saber o que eu penso? Esta coisa do vírus é tudo uma treta. Quem o inventou foi esperto, vamos ser honestos, está a ver o que está a acontecer com as vacinas e as farmacêuticas? O vírus foi inventado para elas ganharem dinheiro. Pensam que enganam assim o povo, mas a mim não. E quer saber mais, há quem diga que estas vacinas têm qualquer coisa lá dentro que nos vai controlar, que o governo vai usar para saber onde é que o zé povinho anda, com quem e a fazer o quê. E olhe que eu acredito. A mim não me apanham eles.
- Não, irmão. Esta doença foi um castigo do Senhor. O Senhor está a castigar-nos por andarmos nesta vida só a fazer maldades, a causar dor, a ignorar quem precisa da nossa ajuda. Sim, ao Senhor bom Deus não lhe faltam razões para estar triste e magoado connosco.
Estavam os dois tão embrenhados na conversa, que nem se deram conta de que alguém se tinha aproximado.
- Perdoem eu estar a intrometer assim na vossa conversa, meus senhores, mas eu não concordo com nenhum dos dois. Em parte, concordo com o Senhor Padre, a Covid é um sinal do universo. Mas não porque uma entidade superior está chateada connosco. A Covid é um sinal de que as coisas como estão não podem continuar, é um sinal de que andamos todos com a cabeça no ar, preocupados com as coisas erradas e incapazes de amar o próximo. É verdade. A preocupação da maioria de nós é o dinheiro, queremos sempre mais, vivemos tão obcecados com isso que depois tudo o resto é secundário, não interessa. A Covid veio para transmitir uma mensagem de amor. Algumas pessoas vão manter o que sempre foram antes da pandemia, mas outras vão despertar e ainda bem.
- E qual é a sua graça, irmão? – pergunta o padre.
- Gustavo Santos – responde o terceiro.